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Projeto Albatroz participa de workshop para discussão de protocolos sanitários da soltura de aves marinhas reabilitadas

Informações vão orientar os critérios utilizados pelo Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (Planacap)

Para além do trabalho nas ilhas de reprodução e do desenvolvimento de medidas mitigadoras que visam a redução da captura incidental de aves marinhas, os esforços da conservação de espécies ameaçadas de extinção também passam pelos cuidados no manejo, reabilitação e retorno à natureza. Para discutir esse último assunto, o Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, participou de um workshop organizado por instituições ambientais para fazer a análise de risco e a definição de critérios sanitários para a soltura pós-reabilitação de espécies de dois planos nacionais de conservação: o Plano Nacional para a Conservação das Aves Marinhas (PAN-Aves Marinhas) e o Plano Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (Planacap). O evento aconteceu na última semana de agosto em Florianópolis (SC).

Facilitada por médicos veterinários especializados em aves marinhas, Patricia Serafini e Ralph Vanstreels, a oficina de quatro dias tinha como principal objetivo elaborar subsídios para a consolidação do protocolo utilizado pelos profissionais, com critérios sanitários tangíveis para orientar a soltura após reabilitação das espécies protegidas pelos dois planos nacionais.

Para isso, especialistas de todo o país trabalharam de forma conjunta, analisando as espécies em risco, sua distribuição geográfica, identificação e ranqueamento das principais doenças de interesse para as populações de aves encontradas na costa brasileira, como os albatrozes e petréis, que intensificam sua busca por alimento em águas do nosso país durante o inverno do Hemisfério Sul. 

Após quantificarem e ranquearem os patógenos de maior risco para as aves marinhas e as espécies mais vulneráveis, criando sua própria análise de risco, os especialistas discutiram também algumas questões referentes à comunicação dos riscos entre médicos veterinários e biólogos envolvidos na reabilitação e soltura de aves, bem como o que fazer ao detectar alguma das doenças discutidas no workshop.

Com o estudo concluído, as instituições ambientais envolvidas no encontro vão submeter o trabalho à consulta pública virtual, discutindo os resultados com os centros de pesquisa e reabilitação que lidam diretamente com as espécies e patógenos identificados pelos participantes.

Segundo Tatiana Neves, fundadora do Projeto Albatroz, conhecer as doenças que acometem as aves marinhas é parte importante do trabalho de conservação. “Muitas vezes, ao serem resgatadas e reabilitadas, algumas aves marinhas já vulneráveis devido ao cansaço ou a má nutrição acabam sendo infectadas por patógenos que colocam em risco a sua saúde a também e das demais aves de sua colônia, para onde vão após a soltura”, explica. “Por isso é tão importante discutir os riscos envolvidos no trabalho de reabilitação e soltura, além das doenças que podem ser letais para esses animais”.

Riscos para a conservação

Igor Acosta, médico veterinário consultor do Projeto Albatroz, participou do workshop e destacou que existe um grande grupo de doenças infecto-contagiosas, causadas principalmente por vírus e bactérias, que são perigosas para albatrozes e petréis. Porém, ele destaca que doenças causadas por protozoários, como a toxoplasmose, estão reemergindo, e precisam ser levadas a sério.

“Estamos fazendo um screening bastante sensível para esse parasita específico e temos visto em algumas ilhas oceânicas, principalmente no Brasil, algumas espécies, como o albatroz, por exemplo, com animais reagentes positivos”.

O veterinário reforça também que a prevenção dessas doenças ou a detecção precoce dos patógenos é essencial para a proteção de aves que de alguma forma já enfrentam algum risco de extinção. “Enquanto temos alguns patógenos que são letais para algumas espécies, outras conseguem viver bem com esse mesmo patógeno. Porém, se essas aves passam por uma queda de imunidade, essa enfermidade abre as portas para uma secundária, que pode ser fatal”.

Trabalho pioneiro

Na opinião do médico veterinário Ralph Vanstreels, pesquisador associado da Universidade da Califórnia, analisar os riscos de determinados patógenos para as espécies em conservação no Brasil é algo muito importante, pois o trabalho de monitorá-las após soltura é algo ainda muito pioneiro. “Até hoje nós não temos muitos estudos nesse sentido, mas é algo possível. A ideia é justamente desenharmos maneiras de fazer esses estudos e poder quantificar o quanto uma doença pode ter impacto se ela não for bem controlada”.

Ele cita a pasteurelose, uma grave doença sistêmica, como uma enfermidade com histórico problemático para os albatrozes, e o vírus da influenza aviária, relacionado a gripe, como patógenos preocupantes para essas mesmas espécies. “Estamos atentos à perspectiva da influenza aviária de alta patogenicidade, que agora está se disseminando no Hemisfério Norte entre outras espécies de aves marinhas, e que se chegar no Hemisfério Sul, poderá ter um impacto considerável nas populações de albatrozes e petréis”, afirma.

Vanstreels, no entanto, salienta que essas doenças não representam um risco iminente à saúde humana. “Os estudos mostram que existem vários subtipos de vírus da influenza e da Pasteurella multocida (bactéria causadora da pasteurelose), e felizmente até hoje o que se tem observado é que os subtipos que têm circulado entre as aves marinhas não têm compatibilidade com humanos. Porém, isto poderia mudar no futuro, então é algo que a gente sempre precisa ter em mente para buscar minimizar esse risco”.

Sobre o PLANACAP

O Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis foi elaborado em 2006 e, desde então, já passou por dois ciclos completos de gestão, o primeiro entre 2006 e 2011, e o segundo entre 2012 e 2017. Atualmente em seu quarto ciclo, o PLANACAP contempla sete espécies de albatrozes e petréis ameaçadas de extinção segundo a Portaria MMA nº 444/2014, além de outras cinco contempladas no Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis, da Convenção sobre Espécies Migratórias - ACAP/CMS.

O PLANACAP é no Brasil a referência em nosso país para a implementação do Acordo Internacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), que conta com a participação de 13 países e busca conservar albatrozes e petréis, coordenando atividades internacionais para mitigar ameaças às populações destas aves migratórias. O ACAP foi ratificado e entrou em vigor no Brasil em 2008 e é um acordo no âmbito da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres – CMS da Organização das Nações Unidas (ONU).


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