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Projeto Albatroz discute crise no uso de medidas mitigadoras, influenza aviária e ingestão de microplástico em reunião do ACAP, na Escócia

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Delegação brasileira apresentou pesquisas, participou de workshops e discutiu estratégias de conservação para os albatrozes e petréis durante o AC13

Albatrozes e petréis (ou Procellariiformes) são aves oceânicas ameaçadas de extinção e que se reproduzem em ilhas remotas, têm maturidade sexual tardia e colocam apenas um ovo por temporada reprodutiva. Com tantas particularidades biológicas e de comportamento, e com sua ampla distribuição e capacidade de deslocamento, os esforços para sua conservação precisam ser globais. Por esse motivo, o Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP) realiza reuniões frequentes com pesquisadores do mundo todo a fim de discutir e refinar estratégias de conservação. O mais recente desses encontros, a 13ª Reunião do Comitê Assessor (AC13), aconteceu entre os dias 23 e 26 de maio em Edimburgo, na Escócia, e contou com a participação de pesquisadores do Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, representantes do Ministério do Meio Ambiente e o analista ambiental do CEMAVE/ICMBio, Andrei Roos, representante do Plano Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (Planacap).

Duas semanas antes do início do AC13, os pesquisadores se reuniram para um workshop sobre a padronização da coleta e aporte de dados sobre capturas incidentais ao redor do mundo. Problemática identificada nas últimas reuniões, a falta de indicadores confiáveis e atualizados sobre resultados e ações debatidas pelos especialistas dificulta a tomada de decisões e, por consequência, a eficácia do trabalho de conservação. 

Em seguida, os participantes se organizaram em dois grupos de trabalho que analisam pesquisas, resultados de estudos e propostas de ações para melhoria da conservação. O primeiro deles, o Grupo de Trabalho de Captura Incidental de Aves Marinhas (Seabirds Bycatch Working Group, ou SBWG) estuda as diferentes modalidades de pesca que interagem com albatrozes e petréis, como são essas interações e como minimizar os efeitos desta atividade sobre as aves.

Neste grupo, o Projeto Albatroz apresentou um trecho da pesquisa ‘Interações de aves marinhas com a pesca de pequena escala de linha e anzol no sudeste brasileiro: dinâmica da frota e taxas de captura incidental’, liderada pelo pesquisador Gabriel Canani Sampaio, que está desenvolvendo seu doutorado em parceria com o Projeto Albatroz e o Laboratório de Aves Aquáticas e Tartarugas Marinhas da Universidade Federal do Rio Grande. Nela, ele analisa os dados reportados voluntariamente por pescadores da região de Cabo Frio (RJ), descrevendo a dinâmica destas pescarias, suas interações com aves marinhas e estimando taxas de capturas incidentais.

Já o segundo, chamado Grupo de Trabalho de Populações e Status de Conservação (Population and Conservation Status Working Group, ou PaCSWG), faz a análise de estudos sobre as tendências populacionais das aves, além de discutir outras ameaças a que albatrozes e petréis estão sujeitos, como é o caso da ingestão de resíduos plásticos. Estas atividades ajudam a determinar quais são as espécies mais vulneráveis às ameaças e que, portanto, precisam receber atenção especial nas ações de conservação. 

Este grupo de trabalho, que tem como co-coordenadora a participação da médica veterinária do CEMAVE/ICMBio e colaboradora do Projeto Albatroz Patrícia Pereira Serafini, apresentou a pesquisa ‘Rede colaborativa para avaliar a ingestão de plástico e exposição a aditivos químicos em albatrozes e petréis ao largo da costa do Argentina e Brasil’, feita em uma parceria com pesquisadores do país vizinho. O estudo busca provar os efeitos menos visíveis do lixo plástico na vida selvagem, como a toxicidade derivada dos materiais. 

Por meio de uma rede colaborativa, foi avaliada a ingestão de plástico (itens de menos de 1 mm) em 17 espécies de Procellariiformes, incluindo sete listadas pela ACAP e que ocorrem ao longo da costa do Brasil e Argentina. Itens plásticos foram encontrados em 30,6% das carcaças examinadas, o que indica que a ingestão deste tipo de material é um problema comum para albatrozes e petréis no Oceano Atlântico Sudoeste, destacando a necessidade de estudos sobre seus efeitos subletais. 

O tema discutido pela pesquisa é de relevância global para a conservação deste grupo de aves. Por isso, a ingestão de lixo plástico e a contaminação pelos poluentes contidos neles, serão tema do Dia Mundial do Albatroz deste ano, a ser comemorado em 19 de junho.

Destaques da reunião

De acordo com a fundadora e coordenadora geral do Projeto Albatroz, Tatiana Neves, um dos resultados mais importantes da reunião deste ano foi o consenso de que existe uma crise no cumprimento do uso das medidas de mitigação da captura incidental em todo o mundo. Mesmo após décadas de pesquisa e desenvolvimento de medidas eficazes, de baixo custo e com o mínimo de interferência na atividade pesqueira, criação de leis e políticas públicas, ainda não é possível ter certeza de que estão sendo utilizadas. “Para resolver essa questão do cumprimento, foi criada uma ação dentro do ACAP em que serão feitos estudos e levantamentos de quais pescarias potencialmente interagem com as aves, para reconhecimento do tamanho da captura incidental e a criação de soluções para que tais medidas sejam, de fato, cumpridas pelo setor pesqueiro”, explica.

Assunto de grande importância para a fauna marinha, a gripe aviária transmitida pelo vírus H5N1, considerada uma emergência zoosanitária pelo Ministério da Agricultura, também foi discutida pelos participantes. Considerado um vírus de alta patogenicidade, com o potencial de ameaçar aves silvestres, foi criado um grupo de especialistas dentro do ACAP para tratar da contaminação em albatrozes e petréis, liderado pela médica veterinária do CEMAVE/ICMBio, colaboradora do Projeto Albatroz e co-coordenadora do Grupo de Populações e Estado de Conservação, Patrícia Pereira Serafini.

“Há poucos registros em albatrozes e petréis, principalmente porque são aves que raramente chegam à costa, porém a influenza aviária pode dizimar colônias inteiras de aves, se não forem tomadas as medidas necessárias. Como os albatrozes são aves sensíveis a fatores externos, o ACAP já está agindo para conter essa ameaça global”, afirmou Tatiana Neves.

13ª Reunião do Comitê Assessor

Realizada entre os dias 23 e 26 de maio, a reunião do AC13 teve o objetivo de analisar os relatórios apresentados pelos grupos de trabalho do ACAP, compilar todas as discussões e aprovar os principais planos de trabalho para os próximos anos. 

“Estar nas reuniões do AC13 é ter a certeza de fazer parte da mais alta instância para a conservação de albatrozes e petréis no mundo. O Brasil é um hotspot de aves marinhas, e vem trabalhando para reduzir as capturas incidentais. Por isso, temos orgulho de ver tantos brasileiros discutindo estratégias de conservação, aportando dados e apresentando pesquisas que depois aprimoram as ações de conservação dessas aves no país, realizadas em parceria com o poder público, pescadores e empresas pesqueiras”, explica. 

Durante o evento, Tatiana Neves foi eleita para mais um mandato de três anos como vice-presidente do Comitê Assessor do ACAP. Além disso, outros representantes brasileiros também foram reeleitos para cargos dentro dos grupos de trabalho: Patrícia Pereira Serafini foi reeleita co-coordenadora do Grupo de Populações e Estado de Conservação (PaCSWG) e Dimas Gianuca foi reeleito vice-coordenador do Grupo de Trabalho de Capturas Acidentais (SBWG).

Sobre o ACAP

O Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP) reúne 13 países cujos mares territoriais são utilizados por albatrozes e petréis para a alimentação, migração ou reprodução, principalmente no Hemisfério Sul. Atualmente, também são signatários do acordo: Argentina, Austrália, África do Sul, Chile, Espanha, Equador, França, Nova Zelândia, Noruega, Peru, Reino Unido e Uruguai.

O ACAP tem o intuito de coordenar os esforços dos países signatários e estabelecer metas para a conservação destas aves. Em 2008, o Governo Federal ratificou a adesão do Brasil ao acordo. A entrada do país no ACAP é estratégica devido à alta incidência de capturas em nosso mar territorial. Estima-se que até 4 mil albatrozes e petréis morram incidentalmente todos os anos fisgados pelos anzóis das pescarias de espinhel somente no Brasil.

O Acordo estabelece diretrizes multilaterais para proteger estas aves ao redor do mundo. Em linhas gerais, ele propõe a troca de dados e resultados de pesquisas sobre a ocorrência de albatrozes e petréis nos países participantes, a criação de planos de ajuda mútua entre as nações, além de recomendar práticas e usos de medidas que visem diminuir a captura incidental de aves marinhas.

Saiba mais sobre o ACAP no site: https://acap.aq/   

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