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Pesquisa combinando diferentes técnicas de rastreamento alerta para maiores riscos de captura incidental entre os albatrozes juvenis

Estudo oferece modelo de mapeamento que pode subsidiar informações para a reformulação de políticas públicas de conservação

Embora distantes, albatrozes e seres humanos têm uma coisa em comum: quando jovens, distanciam-se dos pais para descobrirem o mundo, se aventurarem e se tornarem independentes. No caso dessas aves oceânicas, os jovens se distanciam milhares de quilômetros das ilhas onde nasceram em uma viagem que pode demorar anos, com grandes riscos de ter um desfecho fatal. Uma pesquisa publicada este mês no Journal of Applied Ecology por pesquisadores de diversas partes do mundo chama atenção para o maior risco de captura de aves juvenis devido à distribuição mais ampla do que a dos adultos, resultando em maior interação com pescarias de espinhel pelágico no Hemisfério Sul. 

O estudo foi liderado pela cientista brasileira Ana Carneiro e demonstrou, por meio da análise de dados de diferentes tipos de rastreadores (GPS, transmissores satelitais e geolocalizadores) instalados em indivíduos de 22 espécies de albatrozes e petréis, que as aves mais jovens se distanciam mais das colônias reprodutivas e buscam alimento em águas mais ao norte do que as adultas, ficando particularmente vulneráveis à captura incidental em pescarias de espinhel em regiões subtropicais, incluindo águas brasileiras – área de alimentação de diversas espécies.

Ao combinarem diferentes técnicas de rastreamento de aves, os cientistas conseguiram criar mapas detalhados sobre a distribuição dos albatrozes e petréis ao longo dos diferentes estágios da vida, ao contrário da maioria dos estudos até então, que se baseavam, principalmente, na distribuição dos adultos. Quando sobrepuseram os mapas de distribuição das aves aos de distribuição do esforço de pesca, foi possível observar que as aves jovens ocupam áreas mais ao norte, ficando mais vulneráveis à captura incidental nas pescarias de espinhel pelágico nessas regiões. 


Veja o exemplo no mapa abaixo mostrando a sobreposição da distribuição de adultos que estão em reprodução, adultos não reproduzindo e Albatroz-de-Tristão jovens (Diomedea dabbenea) e do esforço de pesca de espinhel pelágico nos oceanos Atlântico e Índico.

O estudo demonstra que ao não considerar a distribuição diferenciada das aves jovens os mapas de sobreposição das populações e do esforço de pesca subestimam o risco de captura incidental em até 42%. Isso tem implicações importantes na formulação de estratégias para a conservação que focam em áreas de maior interação de aves com a pesca.

Essa informação refinada sobre a sobreposição da distribuição das diferentes populações de albatrozes e petréis com as áreas de pesca é fundamental para direcionar esforços de monitoramento e a formulação de políticas públicas, bem como intensificar a presença de observadores de bordo e regulamentar a utilização de medidas de mitigação da captura de aves marinhas, para regiões e frotas que apresentam maior grau de ameaça.

 

Reflexos no Brasil

“A subestimação do uso das águas brasileiras por albatrozes e o risco de captura incidental, por conta da maioria dos estudos de rastreamento serem com adultos, é uma coisa que vínhamos alertando há algum tempo, e que agora foi confirmada por esta pesquisa”, explica a coordenadora geral do Projeto Albatroz, Tatiana Neves. “O estudo mostrou que a importância das águas brasileiras ao sul para diversas espécies só ficou evidente quando a distribuição dos jovens foi considerada”.


“A distribuição dos jovens de albatrozes-de-sobrancelha-negra (Thalassarche melanophris) das ilhas Malvinas/Falklands, por exemplo, apresenta elevada sobreposição com as pescarias de espinhel pelágico do sul do Brasil, o que é corroborado pelos dados coletados por observadores de bordo do Projeto Albatroz sobre a captura incidental dessa frota”, explica o coordenador científico do Projeto Albatroz, Dr. Dimas Gianuca.

Este estudo reforça a importância das ações de pesquisa e conservação de albatrozes e petréis desenvolvidas no Brasil pelo Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, bem como de políticas públicas nacionais voltadas à conservação dessas espécies, como a adesão do Brasil ao Acordo Internacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP, sigla em inglês), a criação do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (PLANACAP), e a obrigatoriedade por lei do uso de medidas para reduzir a captura incidental de aves marinhas em pescarias de espinhel pelágico no sul do país. 

O programa Albatross Task Force, mantido pela BirdLife International em diversos países, e coordenado no Brasil pelo Projeto Albatroz, mostrou que quando a pesca adota medidas para evitar a captura incidental, as mortes de aves marinhas são reduzidas em pelo menos 80%. Saiba mais sobre as medidas mitigadoras adotadas no país neste link.

 

O estudo “A Framework for mapping the distribution of seabirds by integrating tracking, demography and phenology” é de autoria de Ana Carneiro (BirdLife International) com a colaboração de outros 45 cientistas. Sua versão completa (em inglês) está disponível para consulta neste link (https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1365-2664.13568)  


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