“Peso seguro” a 1m do anzol reduz a captura incidental de albatrozes sem afetar a produção pesqueira, aponta estudo
Pesquisa feita por técnicos do Projeto Albatroz analisou mais de 26 mil anzóis em pescarias de espinhel de pelágico no sul do Brasil
Janeiro de 2019 - O regime de peso é uma das três medidas mitigadoras mais eficientes para diminuir a captura incidental de aves marinhas nas pescarias de espinhel pelágico, ao lado do toriline e da largada noturna. Tal medida consiste na instalação de um peso a uma certa distância do anzol para que o mesmo afunde rapidamente, reduzindo o tempo em que permanece próximo à superfície, ao alcance de albatrozes e petréis que tentam se alimentar das iscas. Neste mês, um estudo desenvolvido pela equipe do Projeto Albatroz, em parceria com pescadores, foi publicado no periódico científico Aquatic Conservation Marine and Freshwater Ecosystems.
O estudo demonstra a maior eficiência do peso de 60g a 1m do anzol, conforme recomendado pelo Acordo Internacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), em relação ao peso de 60g a 3,5m do anzol, como é exigido pela legislação brasileira atualmente. O estudo foi desenvolvido no âmbito do programa Albatross Task Force (BirdLife International), coordenado no Brasil pelo Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, e também foi financiado pelo ACAP.
Solução para um impasse
Um entrave para o uso de pesos muito perto dos anzóis de pesca era o risco de acidentes para a tripulação. Isso porque quando os pescadores estão puxando um peixe grande, a linha de pesca, que está tensionada, pode arrebentar, e o peso, preso à linha próximo ao anzol, pode voltar violentamente contra o pescador, causando ferimentos.
Nesse sentido, o peso seguro (comercialmente chamado de Lumo Lead) destaca-se por apresentar um diferencial importante: ao invés da linha ser amarrada no peso, ela passa por dentro dele (Figura 1), de maneira que, quando a linha se rompe, o peso desliza sobre ela ao invés de ser arremessado contra o pescador, evitando acidentes.
“A captura incidental de albatrozes nas pescarias de espinhel segue causando declínios populacionais catastróficos, sendo o principal motivo para que 15 das 22 espécies existentes estejam ameaçadas de extinção”, afirma o coordenador científico do Projeto Albatroz, Dr. Dimas Gianuca.
“O regime de peso é uma medida necessária para diminuir essa mortalidade e o desenvolvimento de sistemas de pesos seguros, como o Lumo Lead, permite que os pescadores utilizem as melhores práticas para reduzir a captura de aves marinhas ao mesmo tempo em que aumentam a sua segurança durante a pesca”, explica.
Figura 1. Peso convencional, composto por um destorcedor com chumbo (esquerda) e peso seguro (direita)
Resultados positivos
Em busca de respostas para qual o melhor regime de peso para evitar a captura de albatrozes e petréis, assim como seu efeito sobre a produção pesqueira, os observadores de bordo do Projeto Albatroz ligados ao programa Albatross Task Force (ATF) coletaram dados ao longo de quatro cruzeiros em barcos de pesca comercial no sul do Brasil, através de uma parceria voluntária com pescadores.
Entre agosto e novembro de 2015, foram observados 32 lances de pesca e um total de 26.377 anzóis, distribuídos igualmente em três configurações distintas de regime de peso: Lumo Lead de 60g a 1m Lumo Lead de 60 g a 3,5m e peso convencional (destorcedor com chumbo) de 60g a 3,5m. O objetivo foi comparar as três modalidades nos quesitos: velocidade de afundamento, captura incidental de aves e produção pesqueira.
O estudo demonstrou que o Lumo Lead de 60g a 1m do anzol afundou mais rapidamente do que o Lumo Lead ou o peso convencional a 3,5 m do anzol e apresentou uma taxa de captura de aves 90% menor dos que com os pesos a 3,5 m do anzol.
Zero impacto na produção pesqueira
Outro resultado positivo do estudo foi o de que a alteração no regime de peso não altera a captura das espécies-alvo da pesca, como atuns, mecas e tubarões, permitindo que os pescadores adotem configurações benéficas para a conservação de albatrozes e petréis sem que haja prejuízo para a produção pesqueira. Muito pelo contrário. De acordo com Gianuca, a utilização das medidas mitigadoras é benéfica tanto para pescadores quanto para as aves marinhas.
“Tanto o regime de peso, quanto a utilização do toriline e a largada noturna não só reduzem a mortalidade incidental das aves, como também evitam que elas roubem as iscas dos anzóis, otimizando o esforço de pesca e favorecendo uma boa pescaria”, diz.
A pesquisa “Improved line weighting reduces seabird bycatch without affecting fish catch in the brazilian pelagic longline fishery” é de autoria do pesquisador Rodrigo C. Santos (Projeto Albatroz e ATF), com a colaboração de Augusto Costa (Projeto Albatroz e ATF), Rodrigo Sant’Ana (Universidade do Vale do Itajaí), Dimas Gianuca (Projeto Albatroz e University of Exeter - UK), Oliver Yates (Center for the Environment Fisheries and Aquaculture Science - UK), Caio Marques (Projeto Albatroz) e Tatiana Neves (Projeto Albatroz) e pode ser lida na íntegra gratuitamente neste link.
Um vídeo com resultados simplificados do estudo também pode ser conferido neste link.
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