Paper histórico sobre captura de aves no Brasil impulsionou trabalho de observação de bordo do Projeto Albatroz
Publicado por Teodoro Vaske Júnior em 1991, estudo documentou pela primeira vez a taxa de aves fisgadas na pesca
A partir do conhecimento da estudante de Biologia, Tatiana Neves sobre a problemática das aves capturadas incidentalmente pela pesca industrial de espinhel, em julho de 1990 nascia, em Santos (SP), o Projeto Albatroz. Porém, a publicação de um estudo inédito no Brasil no ano seguinte, de autoria do oceanólogo Teodoro Vaske Júnior, demonstrou que a situação era ainda mais grave do que se imaginava, com o primeiro dado de Captura por Unidade de Esforço (CPUE) em águas nacionais.
Na época, Vaske Júnior estudava na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e era orientado pelo Prof. Dr. Carolus Maria Vooren, pesquisador holandês radicado no Brasil, que havia se mudado para Rio Grande (RS) em 1979. Vindo da Nova Zelândia, o Vooren trouxe para o Brasil a informação sobre a problemática da captura das aves nos espinhéis, assunto bem conhecido por lá, e inseriu esse tema em suas aulas do curso de Oceanologia da FURG.
Estudioso de espécies de peixes como atuns, agulhões, tubarões e outros peixes oceânicos, Vaske Júnior já embarcava em cruzeiros de pesca desde os anos 80 e, em meio ao seu estudo, também anotava em seu diário de bordo particular as espécies de aves que avistava, sua localização, quantidade, capturas e, infelizmente, as mortes por afogamento.
“Após acumular alguns dados, um dia mostrei para o professor Vooren, que me elogiou e me incentivou para publicar estas informações”, relembra. Elas culminaram na publicação do artigo ‘Seabirds mortality on longline fishing for tuna in Southern Brazil’.
“A pesquisa indicava uma CPUE muito alta comparada com outras taxas similares publicada em outros países e regiões na época, chamando a atenção da comunidade científica internacional e também a minha”, conta Tatiana. “Foi nessa época que iniciei o contato com os mestres de barcos de pesca de espinhel de Santos e foi esse trabalho de monitoramento da frota que levou à criação do Projeto Albatroz”.
Em um destes cruzeiros de pesca, Vaske Júnior, ao desembarcar no Terminal Pesqueiro de Santos, conheceu Tatiana Neves, que estabelecia o Projeto Albatroz, hoje patrocinado pela Petrobras. Foi o início de uma grande amizade e também do intercâmbio de valiosas informações científicas sobre albatrozes e petréis.
Dr. Eduardo Secchi, professor associado do Laboratório de Ecologia e Conservação da Megafauna Marinha-Ecomega, do Instituto de Oceanografia da FURG e estudioso de cetáceos, foi uma dos primeiros pesquisadores a contactar Tatiana naquela época. Dr. Secchi teve o papel fundamental na ocasião da criação do Projeto Albatroz, pois foi ele quem apresentou-a para mestres pesqueiros de Santos, além de atuar como observador de bordo para a instituição.
Primórdios da conservação
Em uma época sem acesso à internet e pouca informação catalogada sobre o assunto, Teodoro Vaske Júnior, Tatiana Neves e biólogos como Eduardo Secchi entre outros, ajudaram a desbravar um assunto importante para a sobrevivência do grupo de aves mais ameaçadas do planeta, incentivados e orientados pelo Prof. Vooren. Não existiam orientações sobre as melhores práticas para mitigar a captura das aves, tampouco leis que indicassem tecnologias de uso recomendado para diminuir as mortes.
Segundo Vaske Júnior, os pescadores desconheciam formas de evitar a captura e não a faziam intencionalmente. “Eles sentiam pena e também às vezes se irritavam com isso, pois uma ave fisgada inutilizava um anzol que poderia ter um grande peixe fisgado em vez da ave”, detalha.
Na década de 90, a única medida até então estudada que praticavam era a largada noturna dos anzóis iscados, já recomendada pelo Projeto Albatroz para evitar a captura das aves que têm hábitos diurnos de alimentação. Durante o dia, os barcos eram seguidos por um grande número de aves que tentavam se alimentar das lulas ou pequenos peixes usados como isca na pescaria de espinhel.
Medidas de conservação
Em quase 30 anos de trabalho em prol da conservação de aves marinhas tão importantes para a biodiversidade como os albatrozes e os petréis, o Projeto Albatroz conseguiu trazer avanços para a diminuição da captura de aves, com pesquisas para o fomento do desenvolvimento de medidas mitigadoras eficazes e de políticas públicas sobre o tema tanto dentro como fora do Brasil.
“Acredito que graças aos esforços do Projeto Albatroz e seus contatos com outras instituições internacionais de monitoramento das aves, hoje os albatrozes ainda estão aí, senão algumas espécies já estariam extintas. Medidas de mitigação já viraram portarias e leis, e junto ao trabalho direto com os pescadores e armadores, esperamos que esta conscientização seja uma rotina” comenta Vaske Júnior. Para ele, somente desta maneira a tentativa de chegar a um ponto de equilíbrio entre a eficiência pesqueira e a conservação das aves marinhas passa a ser algo realmente viável.
Para Eduardo Secchi, a preocupação com a conservação marinha, especialmente de espécies vulneráveis, como cetáceos, tartarugas e aves marinhas tem crescido. “Isso se deve ao maior número de estudos e fortes ações de conservação voltadas a estes grupos por parte de Universidades e ONGs, entre elas, e com destaque, o Projeto Albatroz”.
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