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Dia Mundial do Albatroz chama atenção para os efeitos da poluição por plástico na sobrevivência das espécies

Oscar Thomas

Campanha global coloca em evidência quatro espécies especialmente ameaçadas pelos resíduos plásticos e seus efeitos tóxicos

A poluição plástica é um dos principais desafios para a conservação marinha, não só pelos efeitos no ecossistema, mas também pelas consequências para a sobrevivência dos animais que vivem nele. Estudos estimam que até 90% de todas as aves marinhas vão ingerir plástico em algum momento de sua vida e além dos efeitos que os plásticos podem causar ao levar à obstrução ou perfuração do trato gastrointestinal, esses materiais também podem liberar uma infinidade de produtos químicos que podem ser absorvidos pelo trato digestivo, podendo causar intoxicação e morte. Para alertar sobre essa ameaça global, o Projeto Albatroz se uniu à campanha do Dia Mundial do Albatroz, celebrado em 19 de junho. 

Umas das aves escolhidas para simbolizar a campanha deste ano é o albatroz-de-sobrancelha-negra (Thalassarche melanophris), símbolo do Projeto Albatroz e mais comumente encontrado em águas brasileiras. Com o patrocínio da Petrobras pelo Programa Petrobras Ambiental há mais de 15 anos, o Projeto Albatroz conseguiu ampliar ações de pesquisa científica, educação ambiental e políticas públicas que culminaram na saída dessa espécie da lista de espécies ameaçadas de extinção em 2015.

Esforço global para a conservação

Segundo os representantes do Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), a poluição por plástico é considerada uma das principais ameaças às populações de albatrozes ao redor do mundo, ao lado das mudanças climáticas e da captura incidental pela pesca. O plástico, inclusive, foi tema de uma série de discussões do maior encontro de especialistas sobre essas espécies, a 13a Reunião do Comitê Assessor, realizada em maio, na Escócia.

A fundadora e coordenadora geral do Projeto Albatroz, Tatiana Neves, é também vice-presidente do comitê assessor, e participou ativamente do evento deste ano, contribuindo para o debate sobre o assunto. Segundo ela, o Brasil encara a poluição plástica de forma séria, colaborando com ações de educação ambiental e pesquisas que apoiem políticas públicas para a conservação dessas aves. “Toda a vida do planeta está interconectada. Quando falamos sobre combater a poluição por plástico para proteger os albatrozes, também estamos protegendo peixes, mamíferos, corais, microrganismos, plantas, e também a saúde humana. Juntos, com ações estratégicas, podemos mudar isso”.

Tatiana também ressalta que na reunião deste ano, a vice-coordenadora do Grupo de Trabalho de Populações e Status de Conservação (PaCSWG), a médica veterinária do CEMAVE/ICMBio e colaboradora do Projeto Albatroz, Patrícia Serafini, apresentou a pesquisa ‘Rede colaborativa para avaliar a ingestão de plástico e exposição a aditivos químicos em albatrozes e petréis ao largo da costa do Argentina e Brasil’, feita em uma parceria com pesquisadores do país vizinho. O estudo busca provar os efeitos menos visíveis do lixo plástico na vida selvagem, como a toxicidade derivada dos materiais. 

Por meio de uma rede colaborativa, foi avaliada a ingestão de plástico (itens de menos de 1 mm) em 17 espécies de Procellariiformes, incluindo sete listadas pelo ACAP e que ocorrem ao longo da costa do Brasil e Argentina. Itens plásticos foram encontrados em 30,6% das carcaças examinadas, o que indica que a ingestão deste tipo de material é um problema comum para albatrozes e petréis no Oceano Atlântico Sudoeste, destacando a necessidade de estudos sobre seus efeitos subletais. O estudo ainda não foi publicado de forma oficial.

Para Andrei L. Roos, Analista Ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE/ICMBio) e atual coordenador do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (Planacap), é essencial divulgar informações sobre a poluição por plástico para sensibilizar a sociedade. “Estamos na Década do Oceano e, além dos efeitos do plástico no ecossistema, há uma série de informações ainda pouco conhecidas pelo público sobre como esses materiais, que parecem inofensivos, representam ameaças sérias para a biodioversidade”. 

Impactos da poluição por plástico

Os albatrozes são aves oceânicas que passam a maior parte da vida em alto-mar, viajando longas distâncias para se reproduzir em ilhas remotas, buscar alimento e temperaturas mais amenas ao longo do ano. Por esses motivos, poucas pessoas têm contato com eles. Porém, ações como jogar uma garrafa de água na praia ou uma embalagem no chão, podem colocar as espécies em perigo. Isso porque os plásticos são feitos de materiais resistentes, à base de compostos químicos como ftalatos (responsáveis por deixá-los maleáveis), metais pesados (como mercúrio) e poluentes orgânicos persistentes (POPs, como inseticidas) e levam cerca de 500 anos para se decompor.

Assim, ao confundirem plásticos com alimentos, os albatrozes se alimentam desses resíduos que não são digeridos e se acumulam em seu sistema digestivo. Esses materiais podem perfurar órgãos ou impedir a passagem de comida, levando à morte dos animais por inanição. Muitos albatrozes também regurgitam plásticos em meio à comida oferecida aos filhotes, colocando em perigo a continuidade da espécie, já que os casais colocam apenas um ovo a cada um ou dois anos.

Intoxicação por plástico

Quando ingerido, o plástico pode passar anos dentro do corpo das aves, liberando compostos químicos que causam doenças crônicas, intoxicação e até morte. Entre os produtos químicos que podem ser liberados pelos plásticos estão os ésteres ftalatos, um grupo de produtos químicos amplamente utilizados para alterar as características físicas dos plásticos. 

No estudo “Ésteres de ftalatos (plastificantes) na glândula uropigial e sua relação com a ingestão de plásticos por aves marinhas na costa do Espírito Santo, Leste do Brasil”, publicado no ano passado no Journal of Zoo and Wildlife Medicine, os pesquisadores estudaram a presença destes materiais na glândula usada pelos albatrozes para impermeabilizar suas penas. A médica veterinária Patrícia Serafini, e a consultora técnica Alice Pereira, colaboradoras do Projeto Albatroz, participaram do estudo. 

Nele, três ésteres de ftalato, dimetil ftalato (DMP), ftalato de dibutila (DBP) e ftalato de dietilhexila (DEHP), foram quantificados na glândula uropigial de 48 aves marinhas de 16 espécies coletadas no litoral do Espírito Santo. O DMP foi detectado em 16 aves (33%) de 10 espécies, o DBP em 15 aves (31%) de 11 espécies e o DEHP em 21 aves (44%) de 11 espécies. 
Segundo Patrícia Serafini, apesar das altas frequências de detecção, as baixas concentrações de ftalatos detectadas nas aves estudadas sugerem níveis de exposição abaixo dos limites de toxicidade conhecidos. “Mesmo assim, mais estudos sobre o potencial adverso dos efeitos da exposição aos ftalatos nas aves marinhas são necessários para entender a gravidade da poluição por plástico, especialmente no desenvolvimento reprodutivo dos embriões e filhotes de albatroz”.


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