Atuação do Projeto Albatroz em Cabo Frio gera informações inéditas sobre a captura incidental de aves marinhas no sudeste brasileiro
Com o apoio da Universidade Veiga de Almeida (UVA), e a colaboração voluntária dos pescadores, pesquisadores conseguiram monitorar a captura de aves marinhas pela frota que utiliza o porto da cidade
As pescarias de espinhel pelágico são amplamente conhecidas pela elevada captura incidental de albatrozes e petréis em águas subtropicais e sub-Antárticas. Por essa razão, as ações de pesquisa e conservação do Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, se concentraram historicamente na pescaria de espinhel pelágico do sul do Brasil, para a qual uma séries de medidas mitigadoras já foram regulamentadas.
No entanto, o impacto da captura incidental em outras modalidades de pesca continua pouco conhecido. Este é o caso das pescarias de espinhel de superfície para dourado (Coryphaena hypurus), linha-de-mão para atuns e espinhel de fundo, empregadas pela frota oceânica semi-artesanal dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, composta por cerca de 600 embarcações.
Apesar do impacto potencial dessa frota já ter sido demonstrado por estudos do Projeto Albatroz, o monitoramento sistemático dessas pescarias sempre representou um desafio logístico. Agora, graças a uma parceria entre o Projeto Albatroz, a Universidade Veiga de Almeida (UVA) e o Grupo de Estudos de Pesca (GEPesca), e a colaboração voluntária dos pescadores, o projeto vem monitorando a captura incidental de aves marinhas pela frota semi-artesanal baseada em Cabo Frio (RJ), o que já resultou em avanços substanciais na compreensão das interações de aves marinhas com essa frota. A coleta de dados vem sendo realizado pela bióloga do Projeto Albatroz Luiza Garcia, orientada pelo coordenador científico da instituição, Dr. Dimas Gianuca e com o apoio do professor da UVA, Dr. Eduardo Pimenta.
Ao longo de dois anos, por meio de entrevistas no porto e do preenchimento voluntário pelos pescadores de mapas de bordo do Projeto Albatroz, foram obtidas informações sobre a captura de aves marinhas para centenas de viagens de pesca distribuídas entre espinhel para dourado, linha-de-mão para atuns e espinhel de fundo.
A análise destes dados revelou elevada captura de albatrozes e petréis ao largo do estado do Rio de Janeiro nas três modalidades de pesca, e permitiu verificar pela primeira vez a variação sazonal desse impacto, revelando que as aves são particularmente vulneráveis à captura durante o outono e inverno, que corresponde ao seu período não reprodutivo, quando se distanciam das ilhas onde nidificam e ficam mais abundantes no sudeste brasileiro.
As taxas de captura reportadas são preocupantes, pois considerando o efeito cumulativo da frota espinheleira, a mortalidade representa uma séria ameaça à espécies já impactadas pela pesca de espinhel pelágico, especialmente o albatroz-de-nariz-amarelo-do-Atlântico (Thalassarche chlororhynchos) e a pardela-de-óculos (Procellaria conspicillata), ambos globalmente ameaçados e abundantes na área de atuação dessas pescarias, como retratado na foto abaixo e noticiado em nosso site.
Outra constatação importante foi a elevada captura entre as latitudes 22° e 24° sul, demonstrando que, no sudoeste Atlântico, albatrozes e petréis estão vulneráveis em regiões não contempladas pelas recomendação da Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico (ICCAT, sigla em inglês) e do Acordo Internacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), que estipulam o uso de medidas mitigadoras da captura de aves em pescarias de espinhel pelágico ao sul de 25°. Esses resultados corroboram a importância da norma brasileira ser mais rigorosa, exigindo o uso de tais medidas ao sul de 20°.
Os resultados preliminares dessa pesquisa foram apresentados na última reunião do Grupo de Trabalho para Capturas Incidentais (SBWG, sigla em inglês) do ACAP, realizada em Florianópolis (SC) em maio de 2019, e publicados na 5ª edição do Boletim Técnico Científico do Projeto Albatroz.
TRABALHO A BORDO E SENSIBILIZAÇÃO
Apesar dos resultados relevantes baseados nos dados reportados pelos pescadores, pesquisas a bordo também são necessárias para compreender a influência de aspectos operacionais sobre as capturas incidentais e para o desenvolvimento de medidas de mitigação compatíveis com as particularidades de cada pescaria.
No caso do espinhel para dourado e linha-de-mão, geralmente as aves são capturadas vivas, portanto sua sobrevivência depende de técnicas adequadas de manuseio e remoção de anzóis. Essas técnicas precisam ser amplamente difundidas entre os pescadores por meio de ações de sensibilização e distribuição de manuais para o manuseio das aves e retirada de anzol, garantindo a segurança dos pescadores e das aves.
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