Sobre o
Projeto Albatroz

A albatroz-de-Laysan tem mais de 70 anos. Espécie é uma das mais afetadas pela poluição do oceano e pelo lixo plástico

Para os pesquisadores baseados no Atol de Midway, no Hemisfério Norte, o mês de novembro marca uma espera repleta de esperança: o retorno de Wisdom, a albatroz-de-Laysan (Phoebastria immutabilis) anilhada há 71 anos, considerada a ave selvagem mais longeva de que se tem registros, ao atol localizado no Oceano Pacífico. Este ano, Wisdom chegou para mais uma temporada reprodutiva durante o feriado do Dia de Ação de Graças, no dia 24. 

Seu companheiro de longa data, Akeakamai, ainda não foi visto no atol e esteve ausente na última temporada, o que significa que eles não geraram um novo filhote no ano passado. Porém, não há motivo para preocupação: o último ovo de Wisdom e Akeakamai foi chocado no final de 2020, após dois anos de intervalo na janela reprodutiva. 

Por décadas, Wisdom retorna ao mesmo local, ano após ano, para encontrar seu parceiro reprodutivo e botar um único ovo. Albatrozes são, no termo técnico, filopátricos, o que significa que voltam sempre ao local em que nasceram para realizar sua reprodução. Durante a vida, Wisdom já produziu mais de 50 ovos, com mais de 30 deles bem sucedidos. É bem provável que muitos de seus filhotes estejam hoje na mesma ilha reproduzindo e dando continuidade à espécie.

De acordo com o gerente de pesquisa científica do Projeto Albatroz, Caio Azevedo Marques, embora os albatrozes-de-Laysan possam se reproduzir todos os anos, isso nem sempre é possível para aves com idade bastante avançada. “Existem vários fatores que podem levar casais a não se reproduzirem todos os anos, como a falta de parceiros na ilha, falta de acesso a alimentos em abundância, condições climáticas desfavoráveis, ou até mesmo a idade avançada”, explica. “Enquanto comunidade científica, ainda estamos compreendendo a senescência dos albatrozes”. 

Para Gabriel Canani Sampaio, pesquisador do Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, a longevidade surpreendente de aves como a Wisdom é fruto de uma estratégia de vida comum em aves marinhas e em outros predadores de topo de cadeia, chamada de "estratégia K". “Essa estratégia é caracterizada por um gasto de energia intenso focado na sobrevivência de poucos filhotes. Os animais que apresentam esse tipo de ciclo de vida tendem a ter crescimento lento, vidas longas e baixa fecundidade. No contexto evolutivo, essa foi a maneira de garantir a sobrevivência de filhotes fortes, na ausência de predadores”, detalha. “Atualmente, isso coloca os animais numa posição de baixa resiliência, de forma que impactos nas suas populações podem demorar muito tempo para serem recuperados."

Fatos curiosos sobre a Wisdom

Do inglês, "wisdom" significa sabedoria, palavra que ajuda a entender o motivo da longevidade tranquila desta grande ave oceânica. Seu nome diz muito sobre sua habilidade para enfrentar os desafios do mar aberto e as ameaças a que estão sujeitas as aves marinhas, como a captura incidental pela pesca, o aumento da temperatura do oceano, a ingestão de resíduos plásticos e até mesmo a introdução de espécies exóticas de roedores nas ilhas de reprodução. 

O nome do seu parceiro, Akeakamai, também está alinhado com o conceito de sabedoria que os guia no oceano e faz com que retornem sempre à mesma ilha para reprodução. No idioma havaiano, seu nome significa ‘apaixonado pelo conhecimento’.

Apesar da idade de Wisdom ser estimada em 71 anos, algo muito expressivo para uma ave oceânica, não é possível determinar com exatidão o ano do seu nascimento. Isso porque ela só recebeu a anilha ‘Z333’, que permite que os pesquisadores monitorem suas visitas ao atol, reprodução e estado de saúde, em 1956. Na época, ela estava na ilha chocando seu próprio ovo e, devido à maturidade sexual da espécie variar entre os cinco e oito anos de idade, foi estimado que ela tinha cinco anos - data utilizada como base de cálculo para sua idade até hoje.