Quando a imagem fala pela natureza: O papel da imagem na sensibilização ambiental
Recursos visuais são aliados poderosos na luta pela preservação ambiental, despertando empatia, promovendo educação e gerando mobilização social
Um albatroz fisgado por um anzol; um oceano de plástico ou uma tartaruga presa em uma rede de pesca. Em tempos de excesso de informação, poucas coisas têm tanto poder de impacto quanto uma imagem. No campo da educação e da sensibilização ambiental, o uso de recursos visuais - como fotografias, materiais biológicos, painéis interativos e ilustrações - tem se consolidado como ferramenta essencial para traduzir dados em emoções, estatísticas em histórias, e principalmente promover mudanças reais de comportamento de uma sociedade.
Nesse processo, compreender como a imagem comunica e provoca interpretações é essencial. A imagem não apenas mostra: ela carrega sentidos, desperta sentimentos e influencia atitudes. É aí que entram conceitos da semiótica, o estudo dos signos e de como produzimos significados. Elementos como cores, formas, símbolos e enquadramentos ajudam a construir mensagens que vão além do óbvio, e se tornam memoráveis para quem vê.
No contexto ambiental, essa articulação pode ser decisiva. Uma foto que mostra um albatroz fisgado por um anzol, por exemplo, ultrapassa a estética: ela representa um sistema simbólico que faz um alerta. Como explica a teoria da semiótica greimasiana, esse processo de significação depende da relação entre a forma visível do objeto e os valores sociais e culturais atribuídos a ele.
“No caso específico do albatroz, os produtos de comunicação ajudam a materializar uma ave que é difícil de acessar para a maior parte da população”, explica Tatianne Fonseca, assessora de comunicação do Projeto Albatroz. “Quando mostramos essa ave de forma visual, aumentamos as chances de que o público se lembre do nosso trabalho e da importância da conservação da espécie”.
Tatianne complementa explicando que produtos são lembretes, para quem têm acesso a eles. “Os produtos que entregamos também funcionam como um lembrete da experiência vivida com o Projeto. É um jeito de a pessoa lembrar da ação de educação ambiental, da conversa, do conhecimento que adquiriu. Quando essa experiência é positiva e sensibiliza, há mais chances de ela querer transformar atitudes em relação ao meio ambiente”
O Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, atua há mais de 30 anos na conservação das aves marinhas e na sensibilização sobre a importância da prática de uma pesca mais sustentável. Utilizando os recursos da semiótica, e justamente porque essas aves não fazem parte do cotidiano da maioria das pessoas, o Projeto aposta, por exemplo, na força das imagens e dos materiais expostos no Centro de Visitação em Cabo Frio (RJ). Entre os destaques estão painéis explicativos com informações sobre as espécies, esqueletos e réplicas de albatrozes em tamanho real, além de exemplares taxidermizados. O espaço também conta com um painel específico que apresenta imagens e dados sobre os albatrozes ameaçados de extinção, tudo pensado para aproximar o público da causa. Por meio de campanhas visuais, exposições fotográficas, vídeos educativos e registros em campo o Projeto transforma o invisível em visível, mostrando assim à sociedade as ameaças que essas aves enfrentam, como a captura incidental, e os impactos das atividades humanas sobre os ecossistemas marinhos.
A imagem, nesse sentido, não apenas representa a realidade: ela ajuda a construí-la dentro do imaginário coletivo. Por exemplo, quando uma organização se posiciona em defesa dos albatrozes e petréis, cada elemento visual (de uma foto a um símbolo) contribui para que o público compreenda, se conecte e se engaje com a causa. A imagem vira ponte entre o invisível e o visível, entre o distante e o próximo.
Beatriz Viana, analista de comunicação digital do Projeto Albatroz, destaca que “o digital e o físico são complementos naturais um do outro, e ambos têm um papel crucial na sensibilização. Pelas imagens e textos conseguimos chegar a lugares que nós, como indivíduos, às vezes não conseguimos. A gente voa muito longe, até os ninhais de albatrozes na Nova Zelândia, por exemplo. E com os materiais expositivos mostramos às pessoas onde as aves estão, uma realidade que talvez nunca conheceriam. Nosso trabalho funciona muito quando esses dois complementos agem juntos, quando a pessoa está conosco nos eventos e depois, vai nas redes sociais e descobre um mundo novo que está ali na palma da mão”.
Além disso, como destaca a semiótica peirceana, os signos visuais podem operar como índices (que apontam para algo real), ícones (que se assemelham ao objeto) ou símbolos (que dependem de convenções culturais). Uma fotografia de uma ave ameaçada, por exemplo, pode agir como um índice do problema ambiental, enquanto o uso de determinadas cores ou símbolos pode evocar valores como sustentabilidade, urgência ou solidariedade com a fauna marinha.
Em um cenário de desafios crescentes para a conservação da biodiversidade, dar visibilidade ao que acontece no mar, além do que acontece nos bastidores da ciência é importante. E as imagens continuam sendo nossas grandes aliadas nessa missão, não apenas pela estética, mas por sua potência simbólica, emocional e transformadora.
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