Conheça o Projeto Divulgar, iniciativa de popularização científica do RJ
Grupo é formado por quatro biólogos engajados em disseminar a ciência através da cultura pop e mídias sociais
Ana Beatriz Ramos, Alexia Granado, Bernardo Egito e Maria Luiza de Oliveira têm uma série de características em comum: são jovens, graduandos e graduados em Ciências Biológicas, moradores do Rio de Janeiro e apaixonados pela ciência. Tão apaixonados que decidiram, juntos, concentrar seus esforços para que ela pudesse ser facilitada e ‘traduzida’ para estudantes de diversas idades. Nasceu, assim, o Projeto Divulgar.
Com um ano de trabalho, eles dividiram seus objetivos, olhares e inspirações científicas com o Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras. Em maio deste ano, os biólogos estiveram junto do Projeto nas festividades da Semana do Meio Ambiente do Bondinho Pão de Açúcar, no Rio.
No topo do morro da Urca, os quatro integrantes puderam conhecer melhor alguns projetos de conservação ambiental e trocar experiências com biólogos, professores e outros profissionais sobre como comunicar a ciência - desafio comum entre as iniciativas. Este tema também faz parte do escopo de trabalho do Projeto Albatroz, cuja equipe lida diariamente com o desafio de engajar e sensibilizar o público sobre a sobrevivência de albatrozes e petréis - aves tão distantes do público como a própria ciência, ambas com o potencial de surpreender quando compreendidas.
Conheça os currículos dos integrantes do Projeto Divulgar:
>> Ana Beatriz Ramos: 23 anos, bióloga formada pela UNIRIO. Atualmente trabalha no Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais (LARAMG) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e trabalha com paleoecologia.
>> Alexia Granado: 24 anos, é bióloga formada pela UNIRIO. Atualmente trabalha no setor de ornitologia do Museu Nacional da UFRJ e também é taxidermista.
>> Bernardo Egito Amarante: 24 anos, graduando em Ciências Biológicas pela UNIRIO. Faz parte do Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural da UNIRIO, trabalha com estudos entomológicos clássicos e voltados à “zoologia cultural”. É fotógrafo, ilustrador e diretor de arte do Projeto Divulgar.
>> Maria Luiza de Oliveira Costa Lopes: 22 anos, graduanda em Ciências Biológicas - Licenciatura pela UNIRIO. É fotógrafa e atualmente trabalha com narrativas orais e fotografia no Grupo GeoTales, envolvida em dois projetos de extensão da UNIRIO.
Como surgiu a ideia de se organizarem como projeto em prol da divulgação científica?
Beatriz Ramos - Tudo começou quando eu vi um post de um amigo no Facebook. Ele comentava sobre um dos filhos da servente da UNIRIO nunca ter visto um microscópio na vida, sendo que ele sempre passava todas as tardes na faculdade conosco. Fiquei chocada e resolvi fazer alguma coisa: chamei a Alexia, Bernardo e depois Maria Luiza e falei sobre minha ideia de levar um evento científico para escolas. Queria mostrar o que era ciência e o que fazia um cientista pra todo mundo que não fosse da área. Eles, claro, toparam.
Bernardo Egito - Geralmente, a Ciência tem uma cara séria porque o resultado de suas abordagens tem um compromisso final também sério. (...) É compreensível que o estudo científico carregue esse peso. Porém, é um peso que afasta o público leigo. A Ciência coexiste com a cultura global porque ela inspira criações e pensamentos. O conhecimento científico não precisa estar restrito a um código de comportamento, de conduta... Fazer Ciência é promover um estudo coletivo, que é um compromisso moral para a sociedade e precisa ser acessível.
Quais são os principais objetivos do Projeto Divulgar?
Bernardo Egito - Quando falamos em ‘divulgar’, tentamos evitar o caminho fácil. Não é muito difícil recomendar livros e artigos científicos para as pessoas, porém, é difícil fazer esse material falar a língua delas. Pouco existe o hábito de se estudar um artigo e descobrir coisas novas e isso definitivamente não faz parte da linguagem popular. Saber essa linguagem é fundamental. Por isso, nós temos como objetivos instrumentalizar a divulgação científica e procurar deixá-la mais moldável ao público. Ao invés de nos forçarmos a promover a divulgação com dificuldades e restrições, vamos deixar ela aberta no Facebook e no Instagram, com uma cara amigável, compartilhável e com todos os recursos que tivermos para trazer essa sensação de proximidade com a ciência.
Maria Luiza - Também temos como objetivo mostrar para as pessoas que a Ciência está próxima de nós e que ela é feita, pensada e construída de diversas formas, por mulheres e homens que não necessariamente precisam ter um mestrado ou doutorado para realizar e divulgar as suas pesquisas. Mostrando, também, que o saber popular e a cultura de diferentes povos deve ser valorizada e está relacionada com a parte científica.
Que tipo de trabalho vocês fazem para divulgar a ciência?
Beatriz Ramos - Nós fazemos cobertura de fotos e conteúdos de eventos, ministramos palestras e eventos em escolas, como o “I Colóquio de Divulgação Científica em Escolas”, realizado dentro do Colégio D. Pedro II no ano passado para alunos do Ensino Médio. Ele teve o tema “O que é ciência? Ela é a divulgação científica!” e contou com palestras de quatro projetos convidados a se apresentar junto com a gente, mesa redonda e apresentação em banners sobre Biologia Cultural, falando sobre a Biologia em Harry Potter, Pokémon, etc.
Quais são os principais desafios, na opinião de vocês, em comunicar a ciência de forma jovem e fácil?
Alexia Granado - O público infantil, por exemplo, é um tanto difícil de atingir porque, apesar de muito conectados com informações na internet, é difícil prender a atenção deles. Precisamos dispor de atrativos que os interessem, linguagem simples e assuntos que próximos deles - como jogos, séries, animações e curiosidades que eles podem retransmitir. Embora difícil, esse também é um público muito participativo e engajado, então acredito que quando conseguirmos um bom público, eles nos ajudarão a espalhar a semente do Projeto Divulgar.
Bernardo Egito - Comunicação não é algo fácil! Muita gente não pensa e fala igual a você, mas com um objetivo como o nosso, nós precisamos aprender a pensar e falar igual a eles. Esse é o maior desafio: garantir uma comunicação correta. Divulgar de maneira jovem e fácil é um artifício bastante eficiente para buscar essa comunicação. É uma parte saudável do trabalho porque evidencia a Ciência como um componente inspirador, e não somente uma fonte de informações transmitida formalmente. A ciência precisa ser uma força motriz para a busca de conhecimento também. Garantir isso é garantir uma comunicação plena - o que é fundamental.
Como vocês escolhem a linguagem e a abordagem para tratar, de forma mais simples, temas científicos com o público geral?
Beatriz Ramos - Nós buscamos usar sempre uma linguagem acessível: ‘traduzimos’ termos mais científicos para algo mais comum e usual ou, então, fazemos alguma introdução ao tema para, só então, abordar o que gostaríamos – como, por exemplo, a taxidermia.
Bernardo Egito - Somos bastante criteriosos com essa questão da linguagem e buscamos transmitir conforto e prazer na obtenção do conhecimento. Essa ‘tradução’ que a Beatriz se refere é muito importante, porque nem sempre há esse lado bom para estudar ciência. Ler um artigo é, muitas vezes, trabalhoso até para nós (risos). Para garantir essa tradução, abordagem é tudo. É legal para nós e para o público conhecer personagens de histórias em quadrinhos e animes inspirados em animais, por exemplo. É legal ver o mundo microscópico por trás de fotos de alta qualidade, procurando fazer o pessoal perder o medo por insetos. (...) Procuramos manter a linguagem flexível e adaptável aos tipos de público e isso é um aprendizado constante para nós.
Como foi a interação entre os projetos ambientais na Semana do Meio Ambiente do Bondinho Pão de Açúcar, em que também estivemos presentes? Como vocês conversaram com os projetos e com o público geral sobre ciência?
Beatriz Ramos - Foi ótima! As interações eram muito legais porque, a todo momento, um pesquisador conversava e trocava ideias com o outro, compartilhando experiências e informações, aprimorando seus próprios projetos. Adoramos ver isso de perto. (...) É muito legal saber a história das pessoas que estavam ali com seus projetos, porque muitas nem sequer fazem parte da Biologia e são tão dispostas quanto nós, biólogos, a falar sobre ciência.
Bernardo Egito - Nós precisamos de mais eventos como esse! São verdadeiros encontros de iniciativas com muitos objetivos em comum. Às vezes você mal ouve falar do projeto do seu amigo e sequer sabe que de lá podem sair bons trabalhos em conjunto. Dialogar é fundamental!
Como é feita a escolha de temas para os eventos, conteúdos para as redes sociais e outras iniciativas do Projeto Divulgar?
Beatriz Ramos - Nós falamos sobre ciência, sem fronteiras. Até o momento, lidamos mais com a ciência biológica e ambiental, então buscamos falar sobre tudo o que está nesse tema. (...) No geral, fora de datas especiais, nós produzimos séries de posts em nossas redes que falam sobre áreas acadêmicas ou alguma coleção de museu de interesse do público geral – no caso das séries “Explorando a Ciência” e “I Mostra Científica Digital”, sobre o Museu Americano de História Natural.
Bernardo Egito - Procuramos abordar tudo quanto é conteúdo científico. Basta ele estar num patamar minimamente inacessível para nós entrarmos em ação (risos)! Até o momento, o Projeto Divulgar está investindo em mídia digital e fotografia, portanto, precisamos ser organizados o máximo possível. A verdade é que as pessoas não rotulam estudos específicos como “meio ambiente”, “astronomia”, então é importante organizar o conteúdo e fazer a divulgação de maneira bastante pontual e didática. Não queremos mostrar, sem querer, que a ciência pode ser um mundo bagunçado de informações (risos)!
E quais são os próximos passos? Quais são as ambições de vocês, enquanto grupo, para o futuro do Projeto Divulgar?
Beatriz Ramos - Agora fazemos parte do núcleo Biocenas, pertencente ao Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais da UERJ, como parceria. Acreditamos que isso vai aumentar muito nossa expertise como grupo de fotógrafos e pesquisadores. O Biocenas já trabalha com fotografia ambiental há muitos anos, fazendo diversas exposições, e agora busca essa vertente da divulgação científica e contato com o público que nós temos. Também temos ambições, claro! Queremos fazer mais eventos em escolas, participar de mais eventos científicos, publicar pesquisas de divulgação científica... crescer cada vez mais! Em um futuro próximo, vamos realizar a segunda edição do Colóquio de Divulgação Científica em Escolas, com o tema “Amor à Ciência”.
Bernardo Egito - O próximo passo caminha para um formato de um grupo de criação de conteúdo como sempre desejamos. Queremos não somente continuar com os eventos, mas também fotografar iniciativas parceiras, criar um website, canal no YouTube, expor nosso material fotográfico. O canal talvez seja a nossa maior ambição, devido ao grande trabalho técnico por trás de edição, filmagem etc. Pouco a pouco vamos seguindo e torcendo bastante para que estas ambições se concretizem no futuro. Digo isso não somente pelo sucesso do projeto, mas também pelo sucesso da ciência.
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