Caso de ave marinha anilhada no Oceano Índico e resgatada em Arraial do Cabo é assunto de pesquisa publicada pelo Instituto Albatroz
Pardela-preta viajou mais de 10 mil km e foi resgatada e reabilitada pelo PMP-BC/ES, destacando a relevância de programas de monitoramento para a coleta de dados científicos
A equipe de médicos-veterinários e biólogos do Instituto Albatroz, que executa o Projeto de Monitoramento de Praias (PMP-BC/ES) em parte da Região dos Lagos (RJ), comemora a publicação do artigo científico “De Kerguelen ao Brasil: Insights sobre a migração e a saúde de uma pardela-preta (Procellaria aequinoctialis)” na revista Marine Ornithology (http://www.marineornithology.org/article?rn=1658). O estudo apresenta o caso de uma Pardela-preta que foi anilhada ainda filhote, em abril de 2023, nas Ilhas Kerguelen, no sul do Oceano Índico, e resgatada na Praia Grande, em Arraial do Cabo, em julho de 2024, pela equipe de campo do Instituto Albatroz. A realização do PMP-BC/ES é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.
Quando foi encontrado na costa brasileira, o animal apresentava sinais de exaustão, desnutrição e anemia, evidenciando a alta demanda energética associada à sua extensa jornada de mais de 10.000 km. Os esforços de reabilitação foram bem-sucedidos, resultando na soltura do animal após um mês de cuidados intensivos, envolvendo suporte nutricional e tratamento veterinário especializado.
“Este caso ressalta a importância de programas de monitoramento costeiro e marinho de longo prazo, que fornecem dados valiosos sobre os desafios de saúde enfrentados por aves marinhas, seus deslocamentos de longa distância e os impactos das atividades humanas em suas populações”, comenta a médica-veterinária do Instituto Albatroz, Daphne Goldberg, que assina o artigo juntamente com as médicas-veterinárias da instituição, Janaina Rocha, Gabriela Bezerra e Beatriz Souto, além dos biólogos do Instituto Albatroz, Tatiana Neves, Caio Azevedo Marques e Livia Ribeiro. O paper contou ainda com a expertise de outros autores da área, como os pesquisadores franceses envolvidos na marcação da ave e o médico-veterinário Dr. Ralph Vanstreels.
O caso
Em 31 de julho de 2024, uma pardela-preta adulta foi encontrada na praia Grande, Arraial do Cabo (RJ). A ave possuía uma anilha (DZ29400) aplicada em 03 de abril de 2023, quando ainda era filhote nas Ilhas Kerguelen, como parte de um estudo de monitoramento de longo prazo apoiado pelo Instituto Polar Francês Paul-Émile Victor e pela Reserva Natural Nacional das Terras Austrais Francesas.
Ao ser resgatada, a ave foi prontamente transportada para o Centro de Reabilitação do Instituto Albatroz. Ao chegar, pesava 874g (a massa corporal média de pardelas-pretas adultas saudáveis é de 1,2 kg). O exame físico revelou que a ave estava em más condições nutricionais, com intensa infestação de piolhos e apresentava exaustão, letargia, mucosas pálidas, hipotermia e desidratação.
A reabilitação seguiu protocolos bem estabelecidos para Procellariiformes, incluindo inicialmente a administração de fluidos de hidratação suplementados com nutrientes essenciais e purê de peixe. À medida que sua saúde melhorou, o animal passou a se alimentar sozinho, consumindo uma dieta à base de sardinhas, lulas e camarões. Pesagens e análises hematológicas foram realizadas semanalmente para monitorar a resposta da ave ao tratamento. Após 30 dias, pesando 1 kg e com análises hematológicas indicando recuperação satisfatória, a ave foi solta em 30 de agosto de 2024, na praia da Pernambuca, em Araruama (RJ).
Conclusões
“Embora as pardelas-pretas utilizem o voo planado como estratégia para conservar energia no ar, uma ave de aproximadamente 1 kg que percorre mais de 10.000 km inevitavelmente tem um gasto energético significativo. Quando foi encontrada no Brasil, as condições da ave sugeriam que a longa viagem esgotou consideravelmente seus recursos energéticos e fisiológicos ”, explica Daphne.
A reabilitação e soltura bem-sucedidas da pardela destacam a importância de programas de monitoramento e a cooperação internacional contínua. O apoio a tais programas é essencial para aprimorar a compreensão sobre aves marinhas migratórias e garantir sua proteção.
O resgate e a subsequente reabilitação da ave foram conduzidos no âmbito do Projeto de Monitoramento de Praias das Bacias de Campos e Espírito Santo (PMP-BC/ES). A realização do PMP é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.
Na Região dos Lagos, além do PMP, o Instituto Albatroz também realiza o Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, que mantém um centro de visitação em Cabo Frio (RJ), onde é possível conhecer mais sobre a biologia das pardelas e a biodiversidade marinha e costeira da região.
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