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No Peru, Projeto Albatroz discute estratégias de conservação e atualização de dados internacionais

5 DICAS DE ATIVIDADES (2)

Durante o AC14, as delegações internacionais chamaram atenção para a emergência climática e seus impactos na população de albatrozes e petréis

O Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP) é considerado a mais alta instância científica para a proteção dessas aves, responsável por identificar prioridades, direcionar recursos para a realização de pesquisas, discutir resultados e criar estratégias de conservação globais por meio de suas delegações. O mais recente evento do ACAP, se encerrou com a 14ª Reunião do Comitê Assessor (AC14), aconteceu entre os dias 12 e 16 de agosto em Lima, capital do Peru, e contou com a participação de pesquisadores do Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, representantes do do Plano Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (Planacap) e da Universidade Federal de Santa Catarina.

A primeira rodada de encontros aconteceu uma semana antes do AC14 começar, com a realização de um workshop sobre dados de captura incidental de aves marinhas e priorização de ameaças para todos os países do acordo. Nele, foram discutidas as melhores formas de coletar e aportar dados a uma planilha global com informações sobre as principais pescarias que ameaçam as aves, as taxas de captura, as medidas mitigadoras utilizadas e qual a cobertura dessas medidas. O ACAP tem buscado padronizar a forma de submeter essas informações para analisar os indicadores de sucesso do acordo, e identificar pescarias e países que possam estar contribuindo para a ameaça global ao grupo, de forma a engajar pesquisadores e outros atores sociais ligados a estes cenários.

Em seguida, após o workshop, foram realizados os encontros dos grupos de trabalho, comissões que desenvolvem, apresentam e debatem resultados de pesquisas científicas, consolidando suas conclusões em relatórios que são apresentados e discutidos pelo comitê assessor. Os trabalhos apresentam atualizações do estado de monitoramento e pesquisa conduzido por seus países e instituições, bem como apresenta recomendações de prioridades para pesquisas futuras, métodos de mitigação de interações das aves com as pescarias, entre outros.

Na 12ª reunião do Grupo de Trabalho de Capturas Incidentais de Aves Marinhas em Pescarias (Seabird Bycatch Working Group ou SBWG),foram discutidos temas importantes como a revisão das recomendações de boas práticas reconhecidas do ACAP, engajamento das Organizações Regionais para o Ordenamento Pesqueiro (OROPs) para adoção dessas mesmas boas práticas, as ameaças, soluções e desafios relacionados às interações de albatrozes e petréis com diferentes pescarias (como arrasto, espinhel pelágico, espinhel demersal, cerco e pescarias de pequena escala). Além disso, foram apresentadas inovações entre os hookshields, dispositivos que protegem a ponta dos anzóis como os hookpods, impedindo que as aves sejam fisgadas e também em anzóis modificados para aumentar taxas de afundamento do material de pesca.

Já o Grupo de Trabalho de Populações e Estado de Conservação (Population and Conservation Status Working Group ou PaCSWG), em sua oitava reunião, abordou as tendências populacionais das espécies protegidas pelo acordo, e desafios à sua conservação não relacionados a pescarias, como a presença de espécies exóticas em ilhas, impactos da poluição e das mudanças climáticas, entre outros. Durante o encontro, foi apresentada uma projeção das populações de albatrozes e petréis por um grupo de pesquisadores da Nova Zelândia que trouxe dados alarmantes sobre o declínio dessas espécies. 

Durante a reunião do AC13, esses dados foram discutidos com muito cuidado, assim como as pesquisas e conclusões trazidas pelos grupos de trabalho, para que sejam apresentadas para o próximo encontro das partes, a principal reunião do ACAP, a ser realizada em maio do ano que vem, na Nova Zelândia.

De acordo com Tatiana Neves, o acordo reconhece a importância do trabalho científico e analítico do SBWG e do PaCSWGs. "Com essas novas informações em mãos, estamos nos preocupando em criar uma estratégia de comunicação adequada para a reunião das partes, apresentando essa situação dramática com dados e explicações contundentes também para as OROPs, os países e a população de uma maneira geral", explica. "A conservação dessas aves ameaçadas é, acima de tudo, um trabalho conjunto".

Para Gabriel Canani, gerente técnico do Projeto Albatroz, que participou das reuniões dos grupos de trabalho, um dos grandes destaques da reunião foi o aporte de dados de pescarias de pequena escala que interagem com essas aves marinhas. "O papel socioeconômico das pescarias artesanais e de pequena escala é muito forte em países em desenvolvimento, e especialmente na América Latina, onde contribui com o maior número de empregos ligados à pesca, e com uma produtividade equivalente a de várias pescarias industriais. , Além do Brasil, países como o Peru e o Equador aportaram informações que estão sendo muito valiosas para a discussão de estratégias de conservação, pois os impactos das capturas incidentais em pescarias é cumulativo, e identificar o contexto e a escala destes impactos é um desafio reconhecido dentro do SBWG".

Além de Tatiana Neves e Gabriel Canani, a comitiva brasileira da reunião deste ano foi formada por Patricia Serafini, pesquisadora visitante da Universidade de Oxford, doutoranda da Universidade Federal de Santa Catarina e co-coordenadora do Grupo de Trabalho de Populações e Estado de Conservação.

Sobre o ACAP

O Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP) reúne 13 países cujos mares territoriais são utilizados por albatrozes e petréis para a alimentação, migração ou reprodução, principalmente no Hemisfério Sul. Atualmente, também são signatários do acordo: Argentina, Austrália, África do Sul, Chile, Espanha, Equador, França, Nova Zelândia, Noruega, Peru, Reino Unido e Uruguai.

O ACAP tem o intuito de coordenar os esforços dos países signatários e estabelecer metas para a conservação destas aves. Em 2008, o Governo Federal ratificou a adesão do Brasil ao acordo. A entrada do país no ACAP é estratégica devido à alta incidência de capturas em nosso mar territorial. Estima-se que até 4 mil albatrozes e petréis morram incidentalmente todos os anos fisgados pelos anzóis das pescarias de espinhel somente no Brasil.

O Acordo estabelece diretrizes multilaterais para proteger estas aves ao redor do mundo. Em linhas gerais, ele propõe a troca de dados e resultados de pesquisas sobre a ocorrência de albatrozes e petréis nos países participantes, a criação de planos de ajuda mútua entre as nações, além de recomendar práticas e usos de medidas que visem diminuir a captura incidental de aves marinhas.

Saiba mais sobre o ACAP no site: https://acap.aq/   


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