X
  • Portugues
  • English
  • Spanish

Mudanças climáticas: como os efeitos no clima afetam os albatrozes e petréis?

Design sem nome (4)

Alterações nos padrões reprodutivos, menor disponibilidade de alimentos e degradação de áreas de ninhais colocam a sobrevivência deste grupo de aves em risco

O que antes parecia um assunto distante, o efeito das mudanças climáticas está cada vez mais presente na vida dos brasileiros: chuvas em níveis alarmantes, deslizamentos de terra e alagamentos, secas, queimadas, aumento do nível do mar decorrente do degelo glaciar, entre tantos outros. Um dos mais recentes e chocantes desastres provocados pelas fortes chuvas aconteceu em fevereiro, na cidade de São Sebastião (SP). De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), no início deste ano, 75% dos brasileiros acreditam que as mudanças climáticas podem prejudicar suas famílias. Porém, essa já é uma realidade para milhares de espécies oceânicas, inclusive os albatrozes e petréis, que são estudados e conservados pelo Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras.

Assim como os seres humanos, albatrozes e petréis têm sua sobrevivência ameaçada pelas mudanças climáticas em vários níveis, desde a alteração na distribuição e a disponibilidade de alimento por conta do aumento da temperatura do oceano até a destruição de ovos e ninhos em locais de reprodução. 

De acordo com o gerente de pesquisa científica do Projeto Albatroz, Caio Azevedo Marques, esse grupo de aves é especialmente vulnerável por conta de suas características reprodutivas. “Os albatrozes têm grande longevidade, maturidade sexual tardia e baixa taxa de reprodução”, explica. “Eles começam a se reproduzir por volta dos cinco anos e colocam um único ovo por ano, no caso das espécies menores, e por volta dos dez anos, com uma única postura de ovo a cada dois anos entre as espécies maiores. Por esses motivos, fatores de desequilíbrio ambiental impactam na sua capacidade de gerar e criar filhotes”.

Alterações de temperatura

No Hemisfério Sul, onde há mais de 20 espécies de albatrozes e petréis, o aumento das temperaturas também causa prejuízos. Um exemplo disso é uma pesquisa publicada pela  revista Royal Society em novembro de 2021. Intitulada “Variabilidade ambiental afeta diretamente a prevalência de divórcio em albatrozes monogâmicos”, ela sugere que o aquecimento dos mares está aumentando as taxas de ‘divórcio’ entre casais de albatrozes-de-sobrancelha-negra (Thalassarche melanophris), espécie que se reproduz em ilhas como as Malvinas/Falklands e se alimentam em águas brasileiras.

Embora esse grupo de aves seja considerado monogâmico, “separações” acontecem devido ao fracasso reprodutivo. Cada fêmea coloca um único ovo por temporada reprodutiva e, segundo o estudo, as aves cujos ovos não eclodiram tinham cinco vezes mais probabilidade de se separar de seus parceiros do que aquelas que obtiveram sucesso. Em alguns anos, a taxa de divórcio era inferior a 1%. Mas com as alterações climáticas dos últimos anos, esse número cresceu para 8%.

A pesquisa também chama atenção para outro fator importante: conforme o oceano aquece acima do normal, menos peixes ficam disponíveis para alimentação, fazendo com que as aves precisem viajar distâncias ainda maiores para buscar alimento, às vezes inviabilizando uma reprodução bem sucedida. Circunstâncias como essas aumentam o estresse entre os albatrozes, que acabam se separando pela dificuldade de gerar filhotes com sucesso.

Degradação de ninhais

As ilhas remotas onde os albatrozes e petréis se reproduzem têm pouca ou nenhuma atividade humana, porém os efeitos da crise no clima colocam em xeque as futuras gerações deste grupo de aves. Um exemplo disso são duas espécies de albatrozesque se reproduzem no Oceano Pacífico Norte: o albatroz-de-pés-negros (Phoebastria nigripes) e o albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis). As duas espécies são consideradas quase ameaçadas de extinção pela Lista Vermelha da IUCN e têm suas colônias reprodutivas localizadas em atóis próximos às ilhas havaianas do noroeste dos Estados Unidos. 

Esses atóis - e as aves marinhas que vivem neles - vivem sob o risco do aumento do nível do mar e na frequência e intensidade de  tempestades graves, que resultam em inundações e fortes ondas, são considerados uma consequência direta das mudanças climáticas. Segundo informações do Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), as inundações e tempestades já fizeram ao menos uma pequena ilha desaparecer no mar, acabando com locais de reprodução para centenas de casais de albatrozes; em outras partes da cadeia de ilhas americanas, como no Atol de Midway, fortes chuvas já causaram inundações de ninhos de albatrozes e perda de filhotes perto da costa.

Com a diminuição de locais reprodutivos e a destruição de ovos, a população de albatrozes dessas espécies entra em declínio, uma vez que os casais colocam apenas um ovo por temporada reprodutiva, o que pode acontecer a cada um ou dois anos. Impactos como esses são observados todos os anos e se tornam ainda mais preocupantes para a manutenção da espécie quando são levadas em consideração outras ameaças enfrentadas por essas aves, como a captura incidental pela pesca, a ingestão de lixo plástico, etc.

Como resolver?

Tendo em vista que os efeitos das mudanças climáticas são causados pela ação humana sobre o meio ambiente, as soluções também devem partir da sociedade. Tudo começa com o estabelecimento de pesquisas e estudos que podem ajudar a fomentar políticas públicas, acordos internacionais e gerar mobilização social em torno de ações para diminuir comportamentos e atividades que interfiram no equilíbrio climático. Autoridades governamentais e empresas também têm o papel de potencializar essas ações para que, juntos, sejamos capazes de construir um futuro mais seguro e saudável para as próximas gerações de seres humanos e animais de todas as espécies.

Organizações não governamentais também contribuem para reverter esse quadro. A partir de ações de educação ambiental para diversos públicos, mas principalmente para a primeira infância, instituições como o Projeto Albatroz sensibilizam sobre a existência das aves oceânicas, as ameaças a que estão submetidas e o papel da sociedade na conservação do oceano e da natureza. Dessa forma, é possível multiplicar aprendizados, trocar experiências e inspirar as pessoas para que defendam o equilíbrio do planeta.


Leia mais

+ Notícias

Capa Amar o Mar 6 edição

6ª edição da Revista Amar o Mar dá destaque à inau...

Publicação digital está disponível para download gratuito na biblioteca do siteCabo Frio (RJ), uma d...

22/11/2023

22/11/2023 Leia mais
1

Turismo sustentável atrai jovens a Vitória (ES) pa...

A sexta edição do Encontro Jovem Mar foi organizada pelo Projeto Baleia Jubarte, com a reunião de 70...

17/11/2023

17/11/2023 Leia mais

+Projeto
Albatroz

Seja um voluntário

Leia mais