Dia Mundial do Albatroz alerta para as consequências das mudanças climáticas para a sobrevivência das espécies
Data deste ano chama atenção para duas espécies do Hemisfério Norte: albatroz-de-laysan e albatroz-de-pés-negros
Símbolo de coragem e resiliência frente aos desafios da vida em alto-mar, a albatroz-de-laysan Wisdom é a ave mais longeva de que se tem registros dentre os albatrozes. Com idade estimada em 70 anos, ela sobreviveu a tsunamis, décadas de interação com a pesca e lixo plástico, e agora lida com uma ameaça crescente: as mudanças climáticas, que colocam em risco seu santuário de reprodução e seu alimento. A espécie de Wisdom é um dos destaques do Dia Mundial do Albatroz de 2022, criado pelo Acordo Internacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP) para chamar atenção aos perigos enfrentados por esse grupo de aves, um dos mais ameaçados do mundo em relação às ameaças originadas pelas mudanças climáticas.
Com participação ativa nos comitês, ações de pesquisas e reuniões do ACAP, o Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, une forças com o órgão internacional, governo e outras entidades brasileiras mais uma vez para chamar atenção da sociedade, cientistas e demais públicos para os fatores que colocam em xeque a sobrevivência dessas aves em declínio populacional.
Nos anos anteriores, o Dia Mundial do Albatroz já abordou temas como o desenvolvimento de pescarias compatíveis com a conservação das aves oceânicas e a erradicação de espécies invasoras (que degradam o habitat e predam as aves).
Espécies em destaque
As aves escolhidas para estampar a campanha deste ano são duas das três únicas espécies de albatroz que se reproduzem no Oceano Pacífico Norte: o albatroz-de-pés-negros (Phoebastria nigripes) e o albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis). As duas espécies são consideradas quase ameaçadas de extinção pela Lista Vermelha da IUCN e têm suas colônias reprodutivas localizadas em atóis próximos às ilhas havaianas do noroeste dos EUA.
Esses atóis - e as aves marinhas que vivem neles - vivem sob o risco crescente do aumento do nível do mar e do número e gravidade de tempestades que resultam em inundações, ambos considerados uma consequência direta das mudanças climáticas. As inundações de tempestades já fizeram pelo menos uma pequena ilha desaparecer no mar, perdendo locais de reprodução para vários milhares de casais de albatrozes; em outras partes da cadeia de ilhas, como no Atol Midway, tempestades causaram inundações de ninhos de albatrozes e perda de filhotes perto da costa.
No Hemisfério Sul, onde temos mais de 20 espécies de albatrozes e petréis, o aumento das temperaturas também causa prejuízos. Um exemplo disso é que pesquisas recentes no Atlântico Sul que sugerem que o aquecimento dos mares está aumentando as taxas de ‘divórcio’ entre casais de albatrozes-de-sobrancelha-negra (Thalassarche melanophris), que se alimentam em águas brasileiras.
Foto: Albatroz-de-pés-negros (Phoebastria nigripes).
Desafio global
Como tem se provado nas pesquisas e ações do ACAP nos últimos anos, os esforços de conservação devem ser globais - visto que albatrozes e petréis têm o potencial de dar a volta ao mundo todos os anos em busca de alimento e temperaturas favoráveis.
Tatiana Neves, fundadora e coordenadora geral do Projeto Albatroz tem, desde 2019, o cargo de vice-presidente do comitê assessor do ACAP e participa ativamente das discussões internacionais sobre o tema. Segundo ela, é necessário sensibilizar as pessoas e os atores públicos sobre a urgência de ações para impedir o agravamento das mudanças climáticas não apenas para proteger albatrozes e petréis, mas a biodiversidade marinha como um todo.
“Todos os ecossistemas estão interconectados. Portanto, proteger o oceano e as demais áreas do planeta das mudanças climáticas, contribui também para a conservação de aves, plantas, peixes, mamíferos, microorganismos e outros seres vivos. Na Década do Oceano, isso se torna ainda mais importante”, afirma.
Para Andrei L. Roos, Analista Ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE/ICMBio) e atual coordenador do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (Planacap), embora as espécies-alvo deste ano vivam no Hemisfério Norte, é preciso lembrar que as mudanças climáticas também impactam as aves da porção Sul: “principalmente no que diz respeito às alterações nos ecossistemas e na disponibilidade de alimento para as espécies que frequentam a nossa costa. Por isso, temos que chamar a atenção da sociedade para participar da conservação desse grupo de aves”.
Programação
O ACAP, o Projeto Albatroz e diversas outras entidades e organizações dentro e fora do Brasil estão trabalhando conteúdos exclusivos em suas redes sociais para ajudar a aumentar a consciência do público sobre as mudanças climáticas e a crise de conservação enfrentada pelos albatrozes e petréis ao redor do mundo, além de ressaltar o esforço global de cientistas e instituições para aproximar espécie das pessoas e sensibilizá-las sobre sua importância.
No dia 15 de junho (quarta-feira), a partir das 11 horas, o Projeto Albatroz realizará uma AlbaTalks especial sobre o assunto no YouTube, com a presença do coordenador científico da instituição, Caio Azevedo Marques; o pesquisador Gabriel Canani Sampaio, do Projeto Albatroz; além de Lucas Krüger, pesquisador do Instituto Antártico Chileno especializado em aves marinhas e de Patricia Serafini, médica veterinária do CEMAVE/ICMBio, e colaboradora no Banco Nacional de Amostra de Albatrozes e Petréis (BAAP).
Sobre o ACAP
O Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP) reúne 13 países cujos mares territoriais são utilizados por albatrozes e petréis para a alimentação, migração ou reprodução, principalmente na porção meridional do planeta. Atualmente, são signatários do acordo: Brasil, Argentina, Austrália, África do Sul, Chile, Espanha, Equador, França, Nova Zelândia, Noruega, Peru, Reino Unido e Uruguai.
O ACAP tem o intuito de coordenar os esforços dos países envolvidos e estabelecer metas para a conservação destas aves. Em 2008, o Governo Federal ratificou a adesão do Brasil ao acordo. A entrada do país no ACAP é estratégica devido à alta incidência de capturas em nosso mar territorial. Estima-se que até 4 mil albatrozes e petréis morram incidentalmente todos os anos fisgados pelos anzóis das pescarias de espinhel somente no Brasil.
O Acordo estabelece diretrizes multilaterais para proteger estas aves ao redor do mundo. Em linhas gerais, ele propõe a troca de dados e resultados de pesquisas sobre a ocorrência de albatrozes e petréis nos países participantes, a criação de planos de ajuda mútua entre as nações, além de recomendar práticas e usos de medidas que visem diminuir a captura incidental de aves marinhas.
Saiba mais sobre o ACAP no site: https://acap.aq/
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